ANEMIA FALCIFORME: TESTE DE FALCIZAÇÃO E SOLUBILIDADE
A anemia falciforme é uma hemoglobinopatia que tem como causa, a substituição do ácido glutâmico pela valina, na posição 6 da cadeia de β-globina, criando uma molécula de hemoglobina com comportamento totalmente anômalo.
A troca dos aminoácidos origina a hemoglobina S (HbS), uma hemoglobina disfuncional que provocará no organismo não só o afoiçamento de hemácias levando à hemólise e à oclusão microvascular, mas também à inflamação sistêmica, com disfunção endotelial crônica afetando vasos de todos os calibres, além de hipercoagulabilidade.
Características da HbS
A troca do ácido glutâmico pela valina resulta em perda de eletronegatividade e ganho de hidrofobicidade. A menor carga elétrica negativa da cadeia βS, aliada à sua maior “repulsa pela água”, gera uma tendência à autoagregação, que pode culminar na súbita formação de polímeros de hemoglobina S no interior do citoplasma, ou seja, perda de solubilidade, esses polímeros, por constituírem fibras alongadas e rígidas, alteram o formato da célula (afoiçamento) prejudicando o transporte de oxigênio.
Alterações laboratoriais
Por ser uma anemia hemolítica crônica, a anemia falciforme cursa com alterações laboratoriais bem clássicas com este grupo de doenças:
- Diminuição leve a moderada da hemoglobina e do hematócrito;
- Reticulocitose (entre 3-15%);
- Hiperbilirrubinemia indireta;
- Aumento de DHL;
A reticulocitose provoca um aumento “artificial” do VCM (os reticulócitos possuem maior tamanho que as hemácias maduras), de tal sorte que quando um portador de anemia falciforme não apresenta VCM “normal alto” ou francamente alto, deve-se suspeitar da coexistência de ferropenia.
O teste de Falcização
O teste de falcização evidencia a presença ou a ausência de HbS nas hemácias, o princípio é a indução da falcização por meio da desoxigenação da hemoglobina pela substância redutora metabissulfito de sódio em um microambiente fechado, formado pelo espaço entre a lâmina e a lamínula.
O procedimento é diluir em 100µL de solução fisiológica com 0,5% de metabissulfito de sódio. Colocam-se 50µL de sangue total com EDTA na lâmina. Homogeniza-se e cobre-se com a lamínula sem deixar bolha, vedando as bordas da lamínula. Em seguida, coloca-se na placa de Petri com gaze umedecida e tampa-se. Realizam-se leituras onde na presença de hemácias falcizadas, o resultado será positivo.
O teste de solubilidade
A finalidade deste teste é detectar hemoglobinopatias com presença de HbS. O método é fundamentado na insolubilidade da HbS no estado reduzido. Colocam-se 2 mL da solução redutora e adicionam-se 100µL da “papa de hemácias” (sedimento da centrifugação do sangue com EDTA) em um tubo de hemólise. Agita-se vigorosamente o tubo e centrifuga-se a 3.000 rpm por 5 min. Analisa-se o tubo observando a formação de um anel de precipitado de HbS.
Conclusão
Diversas técnicas automatizadas e moleculares são utilizadas para o diagnóstico preciso da anemia falciforme, contudo os testes de falcização e de solubilidade continuam sendo testes de confirmação para alterações laboratoriais condizentes com um quadro da doença. Por serem técnicas manuais e de baixo custo a positividade frente a alterações suspeitas pode confirmar quadros de anemia falciforme.
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Referências
Laboratório de hematologia: teorias, técnicas e atlas / Márcio Antonio Wanderley de Melo / Cristina Magalhães da Silveira – 1. ed. – Rio de janeiro: Rubio, 2015.
QUIARATI, JOSIANE BELTRAMIN, and GERSON ZANUSSO JÚNIOR. “Prevalência de Portadores de Hemoglobina S em População Afrodescendente em Maringá-PR.” Revista Uningá 45.1 (2015).