Artrite Reumatoide (AR): Uma Visão Clínica Abrangente
A artrite reumatoide (AR) é uma condição autoimune crônica que afeta milhões de pessoas globalmente, desencadeando inflamação nas articulações e tendo um impacto substancial na qualidade de vida dos indivíduos afetados. Neste artigo, exploraremos uma abordagem clínica abrangente desta patologia.
Compreendendo a Artrite Reumatoide
A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune sistêmica comum, afetando aproximadamente 1% da população mundial. Esta condição crônica nas articulações resulta de disfunções no sistema imunológico. Recentemente, estudos têm destacado efeitos severos na mobilidade, funcionalidade e até mesmo na expectativa de vida dos pacientes que não tratam a AR. Isso ocorre devido à inflamação persistente que leva a alterações teciduais, podendo inclusive acelerar o desenvolvimento da aterosclerose.
A evolução das doenças autoimunes, incluindo a AR, é um processo multifacetado, envolvendo fatores hormonais, ambientais e imunológicos, atuando em conjunto nos indivíduos. Estudos demonstram que aproximadamente 60% do risco de desenvolvimento da AR é genético, sendo esses fatores altamente correlacionados com a presença do anticorpo antipeptídeo cíclico citrulinado (anti-CCP).
Fisiopatologia da Artrite Reumatoide
A AR emerge da atividade de células T e B autorreativas, desencadeando sinovite, infiltração celular e uma perturbação no processo de destruição e remodelamento ósseo. A membrana sinovial, juntamente com os osteoclastos e condrócitos, são a principal fonte de citocinas pró-inflamatórias e proteases que levam à deterioração das articulações. Além disso, tecidos proliferativos adentram a cavidade articular, afetando a cartilagem e o tecido ósseo, originando o pannus, uma característica distintiva da AR.
Estudos têm evidenciado o papel significativo das células Th17 na regulação de respostas autoimunes associadas à AR, que, anteriormente, eram atribuídas às células Th1. No contexto da AR, as células Th17 desempenham um papel crucial no desenvolvimento da sinovite e na destruição articular, interagindo com células dendríticas, macrófagos e células B.
Sintomas e Sinais
Os sintomas mais comuns incluem dor, inchaço, calor e vermelhidão nas articulações, sendo as mãos, pés, punhos, cotovelos, joelhos e tornozelos as áreas mais frequentemente afetadas. Essas articulações inflamadas resultam em rigidez matinal, fadiga e à medida que a doença progride, na degradação da cartilagem articular. Isso pode levar à deformidades e dificuldades nas atividades diárias.
Exames Laboratoriais
Não existe um exame específico para o diagnóstico da AR, portanto, são realizados exames para descartar outras possíveis causas dos sintomas, como hemocromatose, lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia e sarcoidose.
– Fator Reumatoide: Positivo em 80% dos casos no primeiro ano após o início dos sintomas, mas cai para 30% quando a AR já está estabelecida. Caso seja negativo, é chamada de artrite reumatoide soronegativa.
– VHS e Proteína C-Reativa: Elevados.
– Pesquisa de anti-CCP ou antivimentina citrulinada mutada: Mais específica que o fator reumatoide, presente em 60 a 70% dos casos.
– Líquido Sinovial: Inflamatório, com aumento de leucócitos e predominância de neutrófilos.
Diagnóstico
O diagnóstico de AR é confirmado quando pelo menos quatro dos seguintes critérios estão presentes por, no mínimo, seis semanas: rigidez matinal nas articulações com duração de pelo menos uma hora, inflamação em pelo menos três áreas articulares, envolvimento das articulações das mãos, punhos, articulações médias e interfalângicas proximais, simetria da artrite, presença de nódulos reumatoides, detecção do Fator Reumatóide no sangue e evidência de alterações radiográficas nas mãos e pulsos. Estabelecer o diagnóstico o mais precocemente possível e iniciar o tratamento imediatamente é fundamental para controlar a atividade da doença e evitar danos articulares e incapacidades.
Conclusão
A gestão eficaz da artrite reumatoide demanda uma abordagem personalizada e multidisciplinar. O diagnóstico precoce, a seleção adequada de medicamentos, a fisioterapia e o controle da dor são componentes essenciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com AR.
Referências:
GOELDNER, Isabela et al. Artrite reumatoide: uma visão atual. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, p. 495-503, 2011.
WALLACH, Jacques Burton. Interpretação de exames laboratóriais . 10º ed Rio De Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2018.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Artrite reumatoide e artrose (osteoartrite). 2014.
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