Função hepática

Função Hepática: Exames Laboratoriais e Avaliação Clínica

O fígado é um órgão vital localizado no quadrante superior direito do abdome, desempenhando diversas funções, incluindo o metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, eliminação de ureia, biotransformação e excreção. Neste artigo, exploraremos os exames laboratoriais utilizados para avaliar a função hepática.

Testes de Função Hepática: Objetivos

Os testes de função hepática possuem quatro objetivos principais: identificar possíveis danos ou disfunções no fígado, auxiliar em diagnósticos específicos, avaliar a gravidade de problemas hepáticos e monitorar a progressão de doenças. Esses testes podem ser divididos em duas classes: testes padrões, solicitados independentemente da hipótese diagnóstica, e ensaios bioquímicos utilizados em situações específicas.

Função hepática

Momento de Realização dos Exames de Função Hepática

É importante considerar a realização dos exames de função hepática em pacientes que apresentem sinais ou sintomas indicativos de danos ou disfunções hepáticas, tais como urina escura, fezes claras, inchaço abdominal, fraqueza, fadiga, icterícia e transtornos de coagulação. Além disso, é fundamental solicitar estes exames em casos de alcoolismo, uso de medicamentos, ervas ou fungos hepatotóxicos e em condições genéticas.

Testes para Avaliação de Lesão Hepatocelular

Alanina Transaminase (ALT): Também conhecida como transaminase glutâmico-pirúvica (TGP), essa enzima está presente em altas concentrações nos hepatócitos. Seus níveis sanguíneos aumentam em casos de lesões hepáticas, como nas hepatites virais ou overdose de paracetamol. Entretanto, também podem se elevar em miopatias quando acompanhada pelo aumento da AST.

Aspartato Transaminase (AST): Também chamada de transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), essa enzima não é tão específica quanto a ALT, pois está presente não somente no fígado, mas também nos músculos esqueléticos, coração, pâncreas e rins. Por isso, níveis elevados de AST podem indicar lesões em vários sítios, não se limitando apenas ao fígado.

As enzimas ALT e AST devem ser avaliadas em conjunto, pois normalmente seus níveis se elevam na mesma proporção em lesões hepáticas. Isso acontece pois a AST e a ALT são enzimas intracelulares presentes nos hepatócitos. Em eventos que causam lesão destas células esse conteúdo é liberado na corrente sanguínea causando suas elevações. A hepatite C possui um comportamento especial, pode ter elevação apenas da ALT, enquanto na hepatite alcoólica, é a AST que geralmente fica mais elevada do que a ALT.

Lactato Desidrogenase (LDH): Essa proteína pode se elevar em lesões hepáticas, mas não é específica, pois também está presente em pequenas quantidades em outros órgãos, alterando-se também na insuficiência cardíaca, hipotireoidismo, anemia hemolítica e outras patologias. Quando avaliada em conjunto com a ALT, pode ser indicativa de hepatite viral.

Testes para Avaliação de Fluxo e Lesão das Vias Biliares

Fosfatase Alcalina (ALP): Essa enzima está presente nas células dos ductos biliares do fígado. Seus níveis podem aumentar em casos de obstruções biliares, colestase intra-hepática e doenças infiltrativas do fígado. A ALP também pode aumentar em crianças durante a fase de crescimento, por estar presente no tecido ósseo.

Gama Glutamil Transpeptidase (GGT): Também chamada de gama-GT, é considerada uma enzima razoavelmente específica para o fígado. Ela pode indicar lesões colestáticas e toxicidade alcoólica aguda e crônica.

Bilirrubina Total (TBIL): A bilirrubina é o principal componente dos pigmentos biliares, derivada da destruição da porção “heme” da hemoglobina e outras hemoproteínas. O fígado é responsável por conjugar a bilirrubina indireta ao ácido glicurônico para que aconteça a excreção. Níveis elevados de bilirrubina podem causar icterícia, sendo um sinal importante de insuficiência hepática primária ou secundária, como anemia hemolítica, hemorragia interna, deficiência no metabolismo da bilirrubina e obstrução dos ductos biliares.

Testes para Avaliação da Função de Síntese do Fígado

Albumina: Essa proteína é sintetizada exclusivamente pelo fígado e pode estar reduzida em doenças crônicas hepáticas, síndrome nefrótica e desnutrição. A albumina possui uma meia-vida de aproximadamente 20 dias e não é considerada um marcador muito sensível para a avaliação da função hepática.

Fatores de Coagulação e Protrombina: O fígado é responsável pela síntese da maioria dos fatores e inibidores de coagulação, bem como algumas proteínas do sistema fibrinolítico. Além disso, a correta absorção e metabolismo da vitamina K depende de um bom funcionamento hepático. Portanto, doenças hepáticas podem levar a alterações na coagulação tanto pela falta de fatores de coagulação como pela falta de vitamina K, que deve ser absorvida na alimentação.

Em resumo, a análise dos exames laboratoriais para função hepática deve ser realizada em conjunto com exames complementares para esclarecer hipóteses diagnósticas. Dessa forma, o analista clínico estará apto a correlacionar os resultados, auxiliando no diagnóstico e tratamento preciso das doenças hepáticas. Uma boa saúde hepática é essencial para o bem-estar geral do indivíduo, e a avaliação periódica desses exames contribui para uma detecção precoce de possíveis problemas, garantindo uma abordagem adequada em prol da saúde do paciente.

Referências 

VASCONCELOS, Rosangela Batista de. Função hepática: marcadores bioquímicos da função hepática. 2022.

MARSHALL, William J.. Bioquímica clínica: aspectos clínicos e metabólicos. 3ª Rio De Janeiro: Editora Elsevier Ltda, 2016

MOTTA, V.T. Bioquímica Clínica para o Laboratório: Princípios e Interpretações. 5ª ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2009.

Leia sobre a função renal aqui