GLICOSE EM FLUORETO
A dosagem da glicose é um dos exames bioquímicos mais solicitados na prática clínica, pois é essencial para o diagnóstico e monitoramento de distúrbios metabólicos, como o diabetes mellitus. Estima-se que cerca de 70% das decisões médicas sejam baseadas em exames laboratoriais, reforçando a necessidade de um controle rigoroso em todas as etapas do processo, desde a coleta de glicose em fluoreto até a liberação do laudo.
A confiabilidade na dosagem da glicose é indispensável, afinal pequenas variações podem alterar a interpretação clínica do paciente. Todavia a metabolização continua da glicose pelas células torna a sua dosagem um desafio para um diagnóstico preciso.
Como a glicose em fluoreto se comporta após a coleta?
Após a coleta da glicose em fluoreto, a glicemia se estabiliza por um tempo, o que não ocorre nas coletas com soro causando uma redução progressiva devido ao consumo celular contínuo da glicose. Embora a via glicolítica de Embden-Meyerhof seja frequentemente mencionada no metabolismo da glicose, nas hemácias, a principal rota metabólica para o consumo glicídico é a via das pentoses-fosfato. Sendo essa via fundamental para a geração de NADPH, a fim de garantir a manutenção do equilíbrio redox e a proteção contra o estresse oxidativo. Mesmo na presença de fluoreto de sódio, esse metabolismo não é interrompido de imediato, tornando o processamento ágil da amostra essencial para minimizar interferências nos resultados laboratoriais.
Sem um agente preservante, essa utilização celular pode levar a uma queda de 6 a 10 mg/dL por hora a 25°C. A fim de minimizar essa degradação, o fluoreto de sódio é amplamente utilizado, pois inibe a enolase, uma das enzimas da glicólise. No entanto, seu efeito não é imediato, e nas primeiras horas após a coleta, a glicólise ainda pode ocorrer em menor escala. Dessa forma, mesmo com o uso do fluoreto, o fator mais crítico para preservar a glicemia é o processamento rápido da amostra.
Qual o impacto na variação laboratorial dos valores da glicose?
Pequenas variações nos valores glicêmicos podem impactar a conduta clínica, especialmente em limiares diagnósticos. De acordo com a American Diabetes Association (ADA), a glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL pode ser um indicativo de pré-diabetes, mas a classificação depende da associação com outro critério alterado, como um teste oral de tolerância à glicose ou hemoglobina glicada. Isso reforça a necessidade de precisão laboratorial para evitar investigações desnecessárias ou atrasos diagnósticos.
A recomendação para reduzir a perda de glicose inclui:
- Centrifugação e separação do soro ou plasma dentro de 30 minutos após a coleta.
- Uso de tubos adequados, como os contendo fluoreto de sódio/EDTA ou ativador de coágulo/gel separador.
- Armazenamento refrigerado entre 2 a 8°C, caso a análise não seja imediata.
Influência do tipo de amostra na estabilidade glicêmica
A glicose pode ser dosada em soro ou plasma, dependendo do tipo de tubo utilizado. Entretanto, se a coleta for realizada em tubo seco com ativador de coágulo e gel separador, o material utilizado para a análise será o soro. Já no caso de tubos contendo fluoreto de sódio, a amostra analisada será o plasma.
A separação da amostra dentro do tempo recomendado reduz significativamente a degradação da glicose. Amostras em fluoreto de sódio, quando refrigeradas entre 2 a 8°C, podem manter a estabilidade glicêmica por até 48 horas, enquanto o soro em tubos com gel separador, quando processado rapidamente, pode preservar os níveis glicêmicos por até 10 horas. No entanto, a melhor prática sempre será a separação imediata do soro ou plasma, reduzindo qualquer possibilidade de interferência analítica.
Padronização e controle de qualidade na fase pré-analítica
A qualidade dos exames laboratoriais começa na fase pré-analítica. A implementação de protocolos rígidos na coleta, armazenamento e processamento das amostras é essencial para minimizar erros e garantir resultados confiáveis, por isso medidas fundamentais precisam conter:
- Treinamento contínuo da equipe de coleta para garantir a padronização dos procedimentos.
- Auditorias internas para avaliar a conformidade das práticas laboratoriais.
- Utilização de materiais adequados, garantindo que o tipo de tubo esteja alinhado com a metodologia do exame.
A confiabilidade dos exames laboratoriais é um fator determinante na tomada de decisões médicas. A estabilização da glicose depende não apenas do uso de agentes preservantes, como o fluoreto de sódio, mas principalmente do tempo entre a coleta e o processamento da amostra. O armazenamento adequado e a padronização dos procedimentos são medidas indispensáveis para garantir a qualidade analítica a fim de assegurar diagnósticos precisos e clinicamente relevantes.
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Referências:
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