HEPATITE B

HEPATITE B

Interpretando os Marcadores Sorológicos

A hepatite B é uma infecção viral do fígado causada pelo vírus da hepatite B (HBV). Esta doença pode variar de uma infecção leve e autolimitada a uma condição crônica séria que pode levar a complicações graves, como cirrose e câncer hepático.

O vírus e as Formas de Transmissão

O vírus da hepatite B (HBV) é um vírus envelopado e pertencente à família Hepadnaviridae, cujo material genético está presente na forma de DNA de fita dupla. 

O ciclo de vida do HBV é caracterizado pela síntese do DNA de fita dupla parcial, através da transcrição reversa do RNA intermediário. A replicação começa com a ligação do vírion com o hepatócito. Dentro do núcleo do hepatócito, a síntese da fita positiva de DNA do HBV é completada e o genoma viral é convertido para a forma de DNA circular. O DNA circular serve como modelo para a transcrição de diversas espécies RNAs genômicas e sub genômicas, sendo o componente estável do ciclo de replicação que é relativamente resistente à ação de antivirais.

É principalmente transmitido pelas vias parenteral e sexual. A progressão natural da hepatite B pode ser dividida em três fases distintas: imunotolerante, imunoativa e não replicativa. O vírus secreta três tipos de antígenos (AgHBs, AgHBc e AgHBe) que, juntamente com seus respectivos anticorpos, são cruciais para o diagnóstico da doença e para identificar suas diferentes fases. As respostas imunes humoral e celular desempenham papéis essenciais na eliminação do vírus e na cura da infecção aguda. Apesar de não ser citopático, o HBV desencadeia mecanismos de defesa que resultam em inflamação e lesões hepáticas necroinflamatórias.

HEPATITE B
vírus da Hepatite B

Fisiopatologia/Fases da Hepatite B

A infecção aguda pelo HBV geralmente é benigna na maioria dos casos, mas pode evoluir para hepatite crônica, cirrose hepática e hepatocarcinoma. A hepatite B crônica apresenta um curso dinâmico, começando com uma fase inicial de alta replicação viral e doença hepática ativa, e posteriormente avançando para uma fase com baixa replicação viral e remissão histológica. O período de incubação viral varia de 30 a 180 dias, mas a replicação começa com a ligação do vírion ao hepatócito e, por isso, o período de transmissibilidade começa muitas semanas antes do início dos sintomas e vai até enquanto persistirem os antígenos de superfície.

Entre os indivíduos infectados na fase aguda, 8 a 10% desenvolvem a forma crônica, devido à falha das defesas imunológicas em eliminar o vírus. O curso da hepatite B crônica é comumente dividido em três fases:

  1. Fase Imunotolerante: Observada frequentemente em crianças que contraíram o HBV por transmissão perinatal ou nos primeiros anos de vida. Caracteriza-se pela presença de AgHBs e AgHBe, altos níveis de carga viral (DNA-HBV), níveis normais ou ligeiramente elevados de aminotransferases (ALT, AST), atividade necroinflamatória mínima ou ausente e fibrose hepática não detectada. O curso geralmente é assintomático.
  2. Fase Imunoativa: Nesta fase ocorre uma resposta inflamatória com efeito citopático. O AgHBe pode ser detectado no soro, e há uma redução nos níveis séricos de carga viral. Também são encontrados níveis elevados de ALT e AST, além de atividade necro-inflamatória no fígado. Em casos de infecção aguda, essa fase dura cerca de três a quatro semanas (fase sintomática). Para infecções crônicas, pode levar 10 anos ou mais para que surjam cirrose e hepatocarcinoma.
  3. Fase Não Replicativa: Nesta fase, o soro apresenta AgHBs e anti-HBe, com baixos ou indetectáveis níveis de DNA-HBV, aminotransferases normais, lesão hepática mínima, curso assintomático e bom prognóstico. Essa fase pode persistir indefinidamente, terminar com a soroconversão do AgHBs ou ser seguida por uma reativação da hepatite, que é marcada pelo surgimento de atividade necro inflamatória no fígado em indivíduos anteriormente inativos ou com hepatite B resolvida.

Com isso, o diagnóstico laboratorial da hepatite B (HBV) é realizado por meio da detecção dos componentes virais nas diferentes fases da infecção, utilizando testes de marcadores sorológicos (para detectar antígenos e anticorpos) e moleculares (para análise qualitativa e quantitativa do DNA viral). As técnicas mais empregadas atualmente no diagnóstico sorológico são os ensaios imunoenzimáticos (ELISA) e a quimioluminescência.

Marcadores Sorológicos

Os marcadores sorológicos são detectáveis ​​no soro sanguíneo que indicam a presença da infecção ou resposta imunológica específica contra o vírus HBV. No caso da hepatite B, os principais marcadores sorológicos são:

  1. Antígeno de Superfície da Hepatite B (HBsAg): É o marcador mais comum e indica infecção aguda ou crônica pelo HBV. Sua presença por mais de seis meses após a infecção inicial sugere hepatite B crônica.
  2. Anticorpo Anti-HBs (Anti-HBs): Surto após a resolução da infecção aguda ou como resultado da vacinação contra a hepatite B. A presença de Anti-HBs indica imunidade contra o vírus.
  3. Antígeno do Núcleo da Hepatite B (HBcAg): Não é detectável no soro, mas o anticorpo IgM contra o HBcAg (Anti-HBc IgM) indica infecção aguda recente.
  4. Anticorpo do Núcleo da Hepatite B (Anti-HBc): É detectável durante e após uma infecção pelo HBV. A presença de Anti-HBc IgG indica infecção passada ou persistente.
  5. Antígeno “E” da Hepatite B (HBeAg): Indica replicação viral ativa e alta infectividade. Sua presença está associada a um maior risco de transmissão do vírus.
  6. Anticorpo “e” da Hepatite B (Anti-HBe): Sua presença indica uma fase de replicação viral reduzida e diminuída na transmissibilidade do vírus.

Resumidamente podemos interpretar os marcadores sorológicos da hepatite B assim:

HEPATITE B
Ministério da Saúde. protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da hepatite-B e coinfecções

Em conclusão, a hepatite B é uma doença viral com grande impacto na saúde pública, exigindo diagnósticos precisos para o manejo adequado dos pacientes. A interpretação dos marcadores sorológicos é fundamental para a detecção, diagnóstico, monitoramento e gestão da infecção por hepatite B. Nesse contexto, o papel do analista clínico é de extrema importância. 

A precisão na interpretação desses marcadores permite a diferenciação entre infecção aguda e crônica, estado de portador inativo, e resposta à vacinação. Além disso, a análise correta dos marcadores sorológicos auxilia na identificação de infecções ocultas e na avaliação do risco de transmissão. Assim, o conhecimento especializado e a atenção ao detalhe dos analistas clínicos são cruciais para garantir diagnósticos precisos e, consequentemente, um tratamento eficaz e a prevenção de complicações associadas à hepatite B.

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Referências

Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas de hepatite B e coinfecções. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/publicacoes/2023

LOPES, Taís Gardenia Santos Lemos; SCHINONI, Maria Isabel. Aspectos gerais da hepatite B. 2011.

DA SILVA, Tais Gonçalves Querino et al. Atualização em hepatite B: revisão bibliográfica. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 12, p. 97930-97946, 2020.