hepcidina

HEPCIDINA

Metabolismo e Relevância Clínica

A hepcidina é um peptídeo antimicrobiano sintetizado principalmente pelo fígado. Desde sua descoberta, ela tem sido reconhecida como um regulador-chave do metabolismo do ferro no corpo humano. A hepcidina controla a absorção de ferro no intestino e a liberação de ferro pelos macrófagos, que reciclam ferro dos eritrócitos senescentes. 

Essa regulação é crucial, pois o ferro é um nutriente essencial para diversos processos biológicos, mas em excesso pode ser tóxico. A hepcidina é inicialmente sintetizada na forma de um pré-hormônio, uma proteína de 84 aminoácidos biologicamente inativa. A maturação da hepcidina ocorre no hepatócito por meio da clivagem dessa proteína pela enzima convertase furina, resultando em sua forma ativa.

Função Fisiológica

As ações biológicas da hepcidina são mediadas por sua ligação à ferroportina, uma proteína transmembrana responsável pelo efluxo de ferro celular. Essa proteína está presente principalmente em três tipos de células: enterócitos, onde o ferro dietético absorvido é exportado para a circulação; macrófagos, que reciclam ferro a partir da degradação de hemácias envelhecidas; e hepatócitos, que armazenam ferro e liberam-no conforme necessário.

Uma vez ligada à ferroportina, a hepcidina induz a rápida internalização e degradação dessa proteína. Nos enterócitos duodenais, altos níveis de hepcidina impedem o transporte do ferro dietético pela ferroportina para a circulação. Em macrófagos e hepatócitos, níveis elevados de hepcidina impedem de forma semelhante o transporte do ferro armazenado para a circulação. Esse rápido sequestro de ferro nos macrófagos e a diminuição a longo prazo da absorção de ferro pelos enterócitos acabam levando à anemia, devido à menor disponibilidade de ferro para a eritropoiese. Por outro lado, a ausência de hepcidina resulta na absorção desregulada de ferro no duodeno, levando à sobrecarga de ferro.

Ação da hepcidina no metabolismo do ferro. Fonte: GROTTO, Helena. Metabolismo do ferro: uma revisão sobre os principais mecanismos envolvidos em sua homeostase. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia.

Relevância Clínica

A hepcidina pode emergir como um biomarcador valioso para avaliar o estado do ferro em pacientes com Doença Renal Crônica (DRC), especialmente considerando que os marcadores atualmente utilizados, como a taxa de saturação da transferrina e a ferritina, podem ser insuficientes. A hepcidina pode, por exemplo, ajudar a distinguir entre pacientes com deficiência funcional de ferro e aqueles com bloqueio reticuloendotelial.

Em casos de deficiência funcional, a hepcidina tende a ser baixa devido à reduzida disponibilidade de ferro para a produção de glóbulos vermelhos. Em contraste, no bloqueio reticuloendotelial, que ocorre frequentemente devido à inflamação, os níveis de hepcidina geralmente são elevados. Além disso, como a hepcidina aumenta com a carga de ferro, monitorar seus níveis pode auxiliar na determinação de quando há ferro suficiente no corpo e alertar sobre o risco de sobrecarga. Níveis baixos de hepcidina também podem indicar pacientes que têm maior probabilidade de responder bem ao tratamento com ferro oral.

A hepcidina é fortemente regulada pela inflamação. Durante uma inflamação, o corpo responde a infecções ou lesões com uma série de alterações fisiológicas e bioquímicas. Entre essas alterações, a produção de citocinas inflamatórias é um componente-chave. As citocinas são proteínas sinalizadoras que regulam a resposta inflamatória, como as interleucinas e o TNF-alfa.

O aumento da hepcidina ocorre em resposta ao aumento das citocinas pró-inflamatórias durante a inflamação. Essa é uma adaptação fisiológica com o objetivo de limitar a disponibilidade de ferro, essencial para a multiplicação de patógenos e células inflamatórias. Portanto, ao reduzir a quantidade de ferro disponível para esses organismos, o corpo tenta conter a infecção e a inflamação, tornando a hepcidina um bom marcador de inflamação.

Em contrapartida, uma inflamação crônica pode desencadear uma anemia, conhecida como anemia inflamatória, que ocorre frequentemente em resposta a condições inflamatórias crônicas. Esse tipo de anemia está estreitamente relacionado com o aumento da hepcidina, pois o sequestro de ferro diminui sua disponibilidade para a produção de hemoglobina.

Em conclusão, a hepcidina, além de regular o metabolismo do ferro e ser um bom biomarcador para situações de deficiência e sobrecarga, desempenha um papel crucial na resposta inflamatória. Em situações de inflamação aguda, sua produção elevada reduz a disponibilidade de ferro, limitando a proliferação de patógenos. Contudo, em inflamações crônicas, a sobreprodução de hepcidina pode contribuir para a anemia e outros problemas relacionados ao ferro. Compreender a hepcidina é vital para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para tratar condições inflamatórias e desordens associadas ao metabolismo do ferro.

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Referências

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RIVERA, Seth et al. O excesso de hepcidina induz o sequestro de ferro e exacerba a anemia associada a tumores. Blood , v. 105, n. 4, p. 1797-1802, 2005.

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