LIQUIDO CEFALORRAQUIDIANO
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LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO: ANÁLISE LABORATORIAL

O exame do líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como exame do líquor, é uma análise laboratorial importante que envolve a coleta e avaliação do fluido que circula no sistema nervoso central e na medula espinhal. 

Este exame é realizado por meio de uma punção lombar, onde uma agulha é inserida na coluna vertebral para retirar uma pequena quantidade do líquido. A análise do líquor é crucial em diversas situações clínicas e tem várias finalidades:

  • Diagnóstico de infecções do sistema nervoso central
  • Avaliação de hemorragias subaracnóideos
  • Diagnóstico de doenças inflamatórias autoimunes
  • Avaliação de tumores cerebrais
  • Descarte de suspeitas de doenças neurológicas

No laboratório clínico a análise do LCR é dividida em análise física, bioquímica e citológica/microbiológica.

Análise Física

ASPECTO: O líquor geralmente é límpido, tornando-se turvo devido ao aumento do número de células (leucócitos e hemácias) e à presença de bactérias, fungos ou meios de contraste. Um aspecto hemorrágico indica uma possível hemorragia subaracnóide ou um acidente de punção, a diferenciação entre essas situações é realizada pela observação da presença de coágulos.

COR: Tipicamente incolor, o líquor torna-se xantocrômico na presença de bilirrubina ou devido à hemólise. Em recém-nascidos, a xantocromia é considerada um achado normal devido à imaturidade anatômica e funcional da barreira hematoencefálica, sendo proporcional aos níveis de bilirrubina. Uma coloração acastanhada sugere a presença de meta-hemoglobina, enquanto uma tonalidade avermelhada (líquor eritrocrômico) indica a presença de oxi-hemoglobina liberada pelas hemácias recentemente lisadas.

Tipo de amostra de LCR em tubos estéreis. A.Límpido; B.Xancrômico; C.Hemorrágico.

Análise Bioquímica

PROTEÍNAS: A maior parte das proteínas no líquido cefalorraquidiano (LCR), aproximadamente 80% do total, tem origem na ultrafiltração do plasma pelas paredes capilares nas meninges e nos plexos coróides. O restante é sintetizado intratecalmente. A avaliação das proteínas totais no LCR é primariamente utilizada para identificar aumento na permeabilidade da barreira hematoencefálica para as proteínas plasmáticas ou para detectar maior produção intratecal de imunoglobulinas. A elevação dos níveis de proteínas no LCR é associada a condições como meningite bacteriana, meningite viral (asséptica) e outras infecções, incluindo sífilis, tuberculose e leptospirose.

GLICOSE: Os níveis de glicose no LCR correspondem a aproximadamente 60% a 70% da glicemia em jejum. A redução dos níveis de glicose no LCR é um indicador importante para o diagnóstico de meningites bacterianas e fúngicas, nas quais geralmente são observados valores baixos a muito baixos. Em contraste, nas meningites virais, os níveis variam de normais a levemente baixos.

CLORO: Qualquer condição que afete os níveis séricos de cloreto também terá impacto nos níveis de cloreto no LCR. Normalmente, os níveis de cloreto no LCR são de uma a duas vezes maiores do que os níveis séricos. Níveis reduzidos são encontrados em casos de meningite bacteriana, assim como na criptococose.

LACTATO-DESIDROGENASE (DHL): A elevação da DHL é considerada quando a relação líquor/soro ultrapassa 0,1. Causas possíveis para essa elevação incluem necrose, isquemia, meningite, leucemia, linfoma e carcinoma metastático. A DHL também é utilizada no diagnóstico diferencial entre acidente de punção e hemorragia, aumentando proporcionalmente ao grau de hemorragia.

ÁCIDO LÁCTICO: A determinação do ácido láctico pode ser útil na diferenciação entre meningites bacterianas, fúngicas ou por micobactérias e as meningites virais. Nos casos de meningites virais, os níveis de ácido láctico raramente ultrapassam 25 a 30 mg/dL. O aumento do ácido lático está associado principalmente a baixos níveis de glicose, indicativos de meningite bacteriana.

Análise Citológica

A análise citológica do líquido cefalorraquidiano (LCR) é uma parte fundamental do exame do líquor, proporcionando informações valiosas sobre a presença e características das células presentes no fluido que circula no sistema nervoso central. 

A presença de hipercelularidade neutrofílica sugere um processo inflamatório agudo. Apesar de presente de forma fugaz nos processos virais e assépticos, o aumento de células, com predomínio de polimorfonucleares, é mais característico dos processos bacterianos agudos como a meningite bacteriana. 

A presença de hipercelularidade linfocitária sugere um processo crônico (meningite crônica que atinge indivíduos cujo sistema imune está comprometido devido HIV, câncer e outras condições.

Outras Análises

Com informações das análises bioquímicas e citológicas, análises de confirmação podem ser realizadas, principalmente as análises moleculares e microbiológicas. Como as bactérias são as causas mais comuns de infecções do sistema nervoso central, a coloração de Gram pode ser útil na pré-identificação do microrganismo e início do tratamento.

Conclusão

Em conclusão, a análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) é uma ferramenta essencial na investigação de distúrbios neurológicos, desempenhando um papel vital no diagnóstico de condições como meningite, tumores cerebrais e doenças autoimunes. A riqueza de informações fornecidas pela análise citológica, bioquímica e física do LCR oferece uma visão profunda do estado do sistema nervoso central, orientando a abordagem clínica e os planos de tratamento.

No entanto, é imperativo destacar a necessidade de considerar cuidadosamente potenciais interferências que possam afetar os resultados do exame do LCR. Entre essas interferências, é crucial mencionar a possibilidade de contaminação da amostra durante a coleta, influências de medicamentos em uso pelo paciente, efeitos de condições sistêmicas e até mesmo a técnica de punção lombar. Estar ciente dessas variáveis é essencial para uma interpretação precisa dos resultados, garantindo que a análise do LCR contribua de maneira significativa para a prática clínica.

Em última análise, a análise do líquido cefalorraquidiano continua a ser uma valiosa aliada no arsenal diagnóstico, mas é igualmente crucial exercer a devida cautela ao interpretar os resultados, reconhecendo potenciais interferências que podem influenciar a precisão e a confiabilidade das conclusões obtidas. Este enfoque meticuloso assegura uma utilização eficaz do exame do LCR na tomada de decisões clínicas, proporcionando insights valiosos para a abordagem terapêutica e a qualidade da assistência ao paciente.

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Referências

CABRAL, D.B.C.; BEZERRA, P.C.; MIRANDA FILHO, D.B.; MENDIZABAL, M.F.M.A. importância do exame do líquor de controle em meningite bacteriana como critério de alta. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., 41(2):189-92, 2008.

Motta, Valter T. (Valter Teixeira), 1943- Bioquímica clínica para o laboratório – princípios e interpretações 5°edição – Rio de Janeiro: MedBook, 2009.

Vista do Análise do líquido cefalorraquidiano. Revisão de literatura . Revistaseletronicas.fmu.br. 2022.disponível em: http://revistaseletronicas.fmu.br/index.php/ACIS/article/view/1186/1000