MAGNÉSIO

O magnésio desempenha um papel essencial na bioquímica e fisiologia humana, sendo fundamental para o funcionamento de mais de 300 enzimas e processos celulares cruciais, como a glicólise, o metabolismo oxidativo e o transporte transmembrana de íons. Embora seja o segundo cátion intracelular mais abundante, sua relevância na prática clínica muitas vezes é subestimada.

No organismo humano, o magnésio está amplamente distribuído, com cerca de 67% associado ao cálcio e fósforo no esqueleto, enquanto o restante é encontrado nos músculos, fígado e plasma.

Alterações em seus níveis podem impactar significativamente as propriedades elétricas das membranas celulares e a interação com outros íons, como potássio (K+) e cálcio (Ca2+), destacando sua complexa influência sobre a homeostase celular. Além disso, o magnésio está intimamente relacionado ao funcionamento do hormônio paratireoideo (PTH), e pode levar a distúrbios como hipoparatireoidismo e hipocalcemia.

FUNÇÕES DO MAGNÉSIO:

Intracelularmente, ele atua como cofator em mais de 300 sistemas enzimáticos, incluindo aqueles envolvidos na glicólise, fosforilação oxidativa, replicação celular e biossíntese proteica. Além disso, é crucial para a manutenção da estrutura macromolecular do RNA, DNA e proteínas, e participa de processos vitais como a contração muscular e a coagulação sanguínea. Proteínas regulatórias, como Gs e Gi, também dependem de magnésio para expressarem suas atividades.

Extracelularmente, o magnésio estabiliza os axônios neurológicos, reduzindo o limiar de estímulo e modulando a velocidade da condução nervosa. Ele influencia a liberação de neurotransmissores na junção neuromuscular ao competir com o cálcio, seu antagonista fisiológico, para inibir a entrada de cálcio no terminal pré-sináptico nervoso. 

Cerca de 67% do magnésio corporal está armazenado nos ossos, com uma fração disponível para troca com o líquido extracelular, funcionando como um reservatório essencial para a manutenção dos níveis plasmáticos de magnésio. 

Os valores normais de magnésio em adultos acima de 20 anos variam entre 1,6 e 2,6 mg/dL. Quando os níveis de magnésio estão elevados, a condição é classificada como hipermagnesemia. Por outro lado, a diminuição dos níveis é denominada hipomagnesemia. Ambas as condições podem levar a desequilíbrios fisiológicos e requerem avaliação clínica adequada para diagnóstico e tratamento.

HIPERMAGNESEMIA:

A hipermagnesemia é uma condição clínica rara, principalmente devido à alta eficiência dos rins na excreção do excesso de magnésio. Entretanto, pode ocorrer em pacientes com insuficiência renal.

Outras condições que podem causar hipermagnesemia:

  • Cetoacidose diabética
  • Intoxicação por lítio
  • Hipercalcemia hipocalciúrica familiar (FHH)
  • Hipotireoidismo
  • Doença de Addison
  • Ingestão excessiva de magnésio

Essa condição pode causar sintomas neuromusculares, como o desaparecimento dos reflexos tendinosos quando os níveis de magnésio estão entre 5 e 9 mg/dL. Com níveis mais elevados (10 a 12 mg/dL), pode ocorrer depressão respiratória e apneia devido à paralisia muscular. Níveis ainda mais elevados podem ser cardiotóxicos, levando à parada cardíaca. Outros sintomas comuns incluem sonolência, hipotensão, náuseas, vômitos e rubor cutâneo. 

HIPOMAGNESEMIA:

As diminuições nos níveis de magnésio raramente ocorrem de forma isolada. Geralmente, estão associadas a distúrbios no metabolismo de outros minerais, como potássio, cálcio e fósforo. 

Causas mais comuns:

  • Acidose metabólica
  • Pielonefrite crônica
  • Glomerulonefrite crônica
  • Nefropatia pós-obstrutiva
  • Transplante renal
  • Desordens gastrointestinais
  • Pancreatite aguda
  • Cirrose hepática
  • Toxemia gravídica
  • Hiperparatireoidismo e hipertireoidismo
  • Alcoolismo crônico

Os sintomas de hipomagnesemia são bastante semelhantes aos da hipocalcemia, afetando principalmente a função neuromuscular. Entre as manifestações clínicas, destacam-se a tetania, hiperirritabilidade, tremores, convulsões e fraqueza muscular.

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Referências:

ARANDA, Pilar; PLANELLS, Elena; LLOPIS, Juan. Magnesio. Ars Pharmaceutica, v. 41, n. 1, p. 91-100, 2000.

GAW, A. et al. Bioquímica Clínica. 2ª edição, Rio de Janeiro: Guanabara, 2001.

MOTTA, V. T. BIOQUÍMICA CLÍNICA PARA O LABORATÓRIO: PRINCÍPIOS E INTERPRETAÇÕES. 5. ed. RIO DE JANEIRO: MEDBOOK, 2009.

PINTO, WAGNER DE JESUS BIOQUÍMICA CLÍNICA. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN, 2017.