GESTÃO DA QUALIDADE EM MICROBIOLOGIA
O controle de qualidade nos laboratórios de microbiologia é essencial para assegurar diagnósticos precisos e confiáveis. Nesse setor, cada detalhe é crucial, impactando diretamente no sucesso do diagnóstico, tratamento e monitoramento de doenças infecciosas. A implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ) padroniza processos, reduz erros e promove melhorias contínuas. Um SGQ bem estruturado aumenta a satisfação de clientes, melhora a imagem do setor, eleva a produtividade, reduz custos e garante segurança aos colaboradores.
Programa de Gestão da Qualidade em Microbiologia:
Um programa de gestão da qualidade em laboratórios de microbiologia deve contemplar diretrizes essenciais. Entre elas, destacam-se:
Controle Interno da Qualidade:
A garantia da qualidade em microbiologia é assegurada por meio de um controle interno rigoroso, abrangendo desde materiais utilizados, metodologias e resultados laboratoriais.
O controle interno da qualidade é fundamental para validar insumos e avaliar o desempenho das técnicas utilizadas diariamente, como provas bioquímicas e colorações específicas. Este controle inclui o uso de cepas de referência conhecidas, ensaios de amostras cegas entre colaboradores e estudos comparativos entre equipamentos.
Controle Externo da Qualidade:
O laboratório deve participar obrigatoriamente de programas de ensaios de proficiência, comparando-os com padrões nacionais e internacionais. Essa forma de avaliação permite verificar se o laboratório está liberando laudos confiáveis e de qualidade de acordo com as normas padronizadas em microbiologia.
Para testes sem amostras disponíveis nos programas de CEQ, podem ser implantados controles alternativos, como comparações interlaboratoriais e análises duplo-cego. Esses processos, combinados com registros detalhados, supervisão contínua e ações corretivas bem estruturadas, garantem a confiabilidade e a excelência nos serviços laboratoriais.
Biossegurança em Microbiologia:
A biossegurança é um pilar essencial na microbiologia, pois garante a proteção dos colaboradores, do ambiente e da integridade das análises realizadas. Para isso, é indispensável manter um manual de procedimentos de segurança, que estabeleça diretrizes claras para reduzir ou eliminar riscos associados à exposição a microrganismos infecciosos e outros acidentes de trabalho.
Além disso, as instruções sobre Precauções Universais devem ser rigorosamente implementadas. É fundamental também que os colaboradores sejam devidamente equipados com equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados, recebam as vacinas recomendadas, como hepatite B e BCG, e tenham acesso a locais apropriados para o descarte seguro de resíduos.
Gestão de Equipamentos e Insumos:
A gestão eficaz de equipamentos e insumos é fundamental para assegurar a confiabilidade dos resultados em microbiologia. Um programa estruturado de manutenção preventiva e corretiva, alinhado às recomendações do fabricante e às necessidades operacionais do laboratório, é indispensável para o desempenho contínuo dos equipamentos. Além disso, práticas como o registro diário de temperaturas de equipamentos e geladeiras, o controle rigoroso de esterilização das autoclaves e a calibração periódica de instrumentos de medição, como pipetas e termômetros, contribuem significativamente para a consistência dos processos.
No que diz respeito aos insumos, a qualidade dos meios de cultura, sejam preparados no laboratório ou adquiridos comercialmente, deve ser monitorada por meio de controles detalhados de esterilidade e desempenho, utilizando cepas de referência. Esses cuidados garantem que possíveis falhas sejam rapidamente identificadas e corrigidas, assegurando a precisão das análises e a conformidade com os padrões de qualidade.
Gestão de Documentos e Registros:
A gestão de documentos e registros é essencial para a padronização e a rastreabilidade das atividades em laboratórios de microbiologia. Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) devem descrever detalhadamente cada etapa dos processos, desde o objetivo e os materiais utilizados até critérios de liberação de resultados e referências bibliográficas. Esses documentos devem estar alinhados às normas de certificação e acreditação adotadas pelo laboratório, garantindo que atendam a exigências regulatórias.
Outrossim, a revisão periódica e controlada desses documentos assegura a atualização constante frente a mudanças nos processos. É responsabilidade de todos os colaboradores conhecerem e aplicarem as instruções contidas nos POPs em suas atividades diárias, com acesso fácil e imediato às versões atualizadas, enquanto versões obsoletas devem ser armazenadas e segregadas conforme os requisitos de arquivamento. Esse rigor no controle documental promove a qualidade, segurança e confiabilidade dos serviços prestados.
Esse monitoramento inclui também os registros de manutenções de equipamentos, temperaturas, calibrações, recebimento de amostras, recebimento de insumos, esterilização, entre outros.
Gestão das Fases Pré-analítica, Analítica e Pós-analítica em microbiologia:
Na fase pré-analítica, erros como coleta inadequada, atrasos no envio ou uso de amostras não representativas são os principais interferentes, sendo responsável por até 70% das falhas laboratoriais. É imprescindível disponibilizar um manual de exames atualizado, contendo critérios de preparo, coleta, conservação e rejeição das amostras, além de registrar todas as informações relacionadas ao processo.
A fase analítica, por sua vez, exige profissionais experientes e medidas rigorosas de controle de qualidade, incluindo revisão crítica dos resultados e comunicação ágil de valores críticos, que indicam risco à vida.
Já a fase pós-analítica envolve a revisão, liberação e armazenamento dos laudos, permitindo repetições ou inclusões de novos testes, conforme necessário. Essa etapa também inclui a assessoria técnico-científica, essencial para esclarecer dúvidas de médicos e pacientes, além de garantir a preservação e rastreabilidade dos registros por no mínimo cinco anos.
Capacitação dos Colaboradores:
O laboratório deve contar com um organograma claro, políticas bem definidas e descrições de funções que estabeleçam as qualificações e responsabilidades de cada cargo, como analistas, técnicos e auxiliares. Os arquivos dos colaboradores devem reunir informações completas, incluindo cópias de diplomas, histórico de treinamentos e avaliações de desempenho.
Desde a admissão, os colaboradores devem passar por treinamentos alinhados ao volume e à complexidade de suas atividades. Para manter a precisão nos processos, é indispensável avaliar regularmente a competência dos colaboradores. Essas avaliações devem ocorrer após novos treinamentos, anualmente, e sempre que houver não conformidades no desempenho. Todos os treinamentos, internos ou externos, devem ser registrados.
Conclusão:
Em resumo, a excelência no controle de qualidade em laboratórios de microbiologia depende de uma gestão integrada e comprometida com boas práticas, biossegurança, capacitação de colaboradores e utilização de ferramentas de monitoramento contínuo. A aplicação rigorosa dessas diretrizes promove diagnósticos confiáveis, aumenta a eficiência operacional e fortalece a confiança de médicos e pacientes nos serviços prestados.
Outrossim, ao aliar inovação, conformidade regulatória e um ambiente seguro, os laboratórios não apenas garantem a integridade das análises, mas também contribuem para a melhoria contínua da medicina laboratorial.
Melhor que conhecer as ferramentas de gestão da qualidade, é saber implementar no seu laboratório!
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Referências:
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Módulo 1: Biossegurança e Manutenção de Equipamentos em Laboratório de Microbiologia Clínica/Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília – DF. 2013.
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Módulo 2: Controle Externo da Qualidade/Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília – DF. 2013.
Controle de Qualidade para Laboratórios (CONTROLLAB). Recomendações do Controle de Qualidade para Laboratórios: Gestão da Fase Analítica do Laboratório: como assegurar a qualidade na prática. 1a. ed. Manole. Rio de Janeiro, RJ. 2010.
Controle de Qualidade para Laboratórios (CONTROLLAB). Recomendações do Controle de Qualidade para Laboratórios: Gestão da Fase Analítica do Laboratório: como assegurar a qualidade na prática. 1a. ed. Manole. Rio de Janeiro, RJ. 2010.
OPLUSTIL, Camen P. et al. Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica-4ª edição. Sarvier Editora, 2020.
MARTINS, André; DOS SANTOS, Elaine Maria. CONTROLE DA QUALIDADE NA FASE ANALÍTICA EM LABORATÓRIOS DE MICROBIOLOGIA MÉDICA DA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ. Varia Scientia-Ciências da Saúde, v. 5, n. 1, p. 49-58, 2019.