TESTES NÃO TREPONÊMICOS NA ROTINA LABORATORIAL
A sífilis é uma doença de evolução lenta. Quando não tratada, vai alternar entre períodos sintomáticos e assintomáticos, com manifestações clínicas e imunológicas distintas. O diagnóstico se baseia no histórico do paciente, dados clínicos, detecção de antígenos ou anticorpos, principalmente por meio dos testes não treponêmicos.
Testes Treponêmicos x Testes Não Treponêmicos
A principal diferença entre um teste treponêmico e um teste não treponêmico, é que os testes não treponêmicos, como o VDRL, detectam anticorpos que não são específicos contra o Treponema pallidum, servindo de forma indireta para o diagnóstico, enquanto os testes treponêmicos, como o FTA-ABS, se baseiam na pesquisa de anticorpos produzidos antígenos treponêmicos.
Como Os Anticorpos Não Treponêmicos Detectam a Sífilis
O principal teste utilizado como diagnóstico, bem como acompanhamento da evolução do tratamento, é o VDRL (do inglês Venereal Disease Research Laboratory) teste que se baseia na floculação utilizando uma suspensão antigênica contendo cardiolipina, colesterol e lectina purificada, podendo ser executado em soro ou líquor dos pacientes.
No preparo da suspensão antigênica, a ligação desses componentes ocorre ao acaso e resulta na formação de estruturas arredondadas denominadas micelas. Caso o treponema esteja presente, as lesões causadas estimulam o sistema imune a produzir anticorpos, estes se ligarão às cardiolipinas das micelas.
Essa ligação é encontrada na forma de flocos ou grumos, grandes ou pequenos, que podem ser visualizados no microscópio:
Resultados Falso-negativos e o Efeito Prozona
O fenômeno prozona consiste na ausência de reatividade aparente no teste não treponêmico realizado em uma amostra não diluída que, embora contenha anticorpos anticardiolipina, apresenta resultado não reagente quando é testada. Esse fenômeno decorre da relação desproporcional entre as quantidades de antígenos e anticorpos presentes na reação não treponêmica, gerando resultados falso-negativos.
Por esse motivo, é fundamental que, todas as vezes que se realizar qualquer teste não treponêmico, a amostra seja sempre testada pura e pelo menos na diluição 1:8. De acordo com o manual técnico do ministério da saúde, esse é um procedimento padrão que deve ser adotado por todos os laboratórios.
Resultados Falso-positivos e a Cicatriz Sorológica
A persistência de resultados reagentes em testes não treponêmicos após o tratamento adequado e com queda prévia da titulação em pelo menos duas diluições, quando descartada nova exposição de risco durante o período analisado, é chamada de “cicatriz sorológica” e não caracteriza falha terapêutica. É importante observar esses critérios porque títulos baixos não necessariamente refletem a cicatriz sorológica. Os testes treponêmicos, mesmo que apresentem alta sensibilidade, não são muito úteis, pois mantêm-se reagentes pela vida toda e apresentam especificidade muito variável no líquor. Portanto, não se recomenda a solicitação de rotina desse teste, principalmente no atual cenário epidemiológico brasileiro.
Outras Considerações
Ainda existem diversas limitações e intercorrências na análise das amostras, resultados falso-negativos são comuns em amostras onde a quantidade de anticorpos supera muito as de antígenos, a solução é aderir às normas do ministério da saúde de sempre realizar o teste qualitativo e semiquantitativo simultaneamente a fim de evitar o efeito prozona.
Quando a amostra de soro puro não apresentar reatividade, mas houver reatividade na amostra diluída a 1:8, terá ocorrido o fenômeno de prozona.
Em contrapartida a reatividade positiva em testes treponêmicos ou mesmo nos não treponêmicos desde que com baixa diluição é muito comum em pacientes que já contraíram a infecção uma vez que esses anticorpos permanecem em na circulação por muitos anos.
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Referências
MANUAL TÉCNICO PARA O DIAGNÓSSTICO DA SIFÍS. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-az/s/sifilis/publicacoes/manual-tecnico-para-o-diagnostico-da-sifilis.pdf
IMUNOENSAIOS FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES – ADELAIDE J. Vaz; JOILSON O. Martins 2° Edição Ampliada e atualizada.