cetoacidose diabética

CETOACIDOSE DIABÉTICA

Fisiopatologia e Alterações Laboratoriais

A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação grave do diabetes mellitus, caracterizada pela tríade de hiperglicemia persistente, acidose metabólica e hipercetonemia associada à cetonúria, além de desequilíbrio hidroeletrolítico. Esta condição pode ser potencialmente fatal se não tratada prontamente. 

cetoacidose diabética

Em condições normais, durante episódios de hiperglicemia, as células beta das ilhotas pancreáticas secretam insulina. A insulina promove a captação de glicose pelas células, estimula a formação de glicogênio no fígado e músculos, facilita a captação de aminoácidos para síntese de proteínas, e promove a captação de ácidos graxos para síntese de gordura.

Na ausência de insulina, o glucagon é secretado, o que dificulta a entrada de glicose nas células musculares e adiposas, resultando em hiperglicemia. Como resposta compensatória, ocorre a lipólise, onde triglicerídeos são quebrados em ácidos graxos livres e glicerol. Além disso, a concentração elevada de glucagon e a baixa insulina estimulam a gliconeogênese hepática, que é a produção de glicose a partir de substratos não glicídicos como os ácidos graxos.

Fisiopatologia da Cetoacidose Diabética

  1. Deficiência de Insulina e Excesso de Hormônios Contra-reguladores: A Cetoacidose Diabética (CAD) ocorre devido à deficiência profunda de insulina, seja absoluta (como no diabetes tipo 1) ou relativa (como em situações de estresse metabólico). Hormônios contra-reguladores como glucagon, cortisol e catecolaminas são elevados, exacerbando a condição.
  1. Metabolismo Lipídico e Carboidratos: Na ausência de insulina, tecidos sensíveis à insulina metabolizam predominantemente gorduras em vez de carboidratos. A deficiência de insulina, sendo um hormônio anabólico, favorece processos catabólicos como lipólise, proteólise e glicogenólise.
  1. Lipólise e Produção de Ácidos Graxos Livres (AGL): A lipólise resulta na liberação de ácidos graxos livres (AGL) que são oxidados no fígado. A oxidação de AGL é intensificada pelo excesso de substrato e pelo estímulo metabólico dos ácidos graxos.
  1. Formação de Corpos Cetônicos: O excesso de acetil-CoA, produto da oxidação de ácidos graxos, leva à formação de corpos cetônicos como acetoacetato, beta-hidroxibutirato (BHB) e acetona. O BHB é o principal corpo cetônico encontrado na CAD, resultante da redução do acetoacetato.
  1. Hiperglicemia e Desequilíbrios Metabólicos: A hiperglicemia na CAD é causada pela diminuição da utilização periférica de glicose, aumento da secreção hepática de glicose e redução da excreção. Aumento da gliconeogênese e glicogenólise hepática contribuem significativamente para a elevação da glicose no sangue.
  1. Desidratação e Perda de Fluidos: A hiperosmolaridade plasmática resultante leva ao deslocamento de fluidos do espaço intra para o extracelular, causando desidratação celular. A diurese osmótica induzida pela hiperglicemia leva à glicosúria e perda de fluidos, sendo a principal causa de perda de peso durante um episódio de CAD.
cetoacidose diabética
Representação  esquemática  da  fisiopatologia  da  cetoacidose  diabética  e  do  estado hiperglicêmico hiperosmolar. Fonte: FREITAS, Et.al Cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar. 2003

No período antecedente a CAD, há manifestações referentes à descompensação metabólica, como poliúria, polifagia, polidipsia e cansaço. Com a instalação da CAD, são observados anorexia, náuseas e vômitos, que podem agravar a desidratação. Cefaleia, mal-estar, parestesia e dor abdominal também são comuns.

Principais alterações Laboratoriais e Clínicas

A cetoacidose diabética (CAD) é caracterizada por alterações metabólicas graves que incluem uma glicemia superior a 250 mg/dL, um pH arterial abaixo de 7,3 e bicarbonato sérico inferior a 15 mmol/L. A elevação progressiva dos níveis de corpos cetônicos no sangue resulta em cetonemia. Esses corpos cetônicos, de natureza ácida, consomem os tampões intracelulares e extracelulares. Quando a produção de corpos cetônicos excede a capacidade dos tampões, ocorre cetonúria. Se não tratada prontamente, o acúmulo de corpos cetônicos leva à acidose metabólica.

A resposta respiratória à acidose metabólica é a taquipneia. Em particular, o β-hidroxibutirato, um tipo de corpo cetônico, pode induzir náuseas e vômitos, que exacerbam a cetoacidose devido à perda de líquidos e eletrólitos. A hiperglicemia frequentemente ultrapassa o limiar renal para a absorção de glicose, resultando em glicosúria significativa.

A perda de água pelos rins aumenta devido à diurese osmótica induzida pela glicosúria, o que causa desidratação severa, sede, hipoperfusão tecidual e, ocasionalmente, acidose láctica. A hiperglicemia, a diurese osmótica, a hiperosmolaridade sérica e a acidose metabólica contribuem para distúrbios eletrolíticos severos, sendo a perda de potássio a mais característica.

A hipocalemia ocorre por 3 grandes causas:

Diurese Osmótica: A hiperglicemia causa diurese osmótica, resultando na perda significativa de água e eletrólitos, incluindo potássio, pela urina​​.

Redistribuição de Potássio: Em resposta à acidose metabólica, o potássio se move do compartimento intracelular para o extracelular. Isso pode inicialmente mascarar a hipocalemia, mas, à medida que a acidose é corrigida, o potássio retorna às células, resultando em baixos níveis séricos de potássio​​​​.

Tratamento com Insulina: A administração de insulina no tratamento da CAD também promove a entrada de potássio nas células, diminuindo ainda mais os níveis de potássio no sangue​​​​.

Na gasometria arterial, as alterações refletem o desequilíbrio metabólico grave causado pela falta de insulina e pelo excesso de corpos cetônicos:

  • pH: geralmente abaixo de 7,3 devido a acidose
  • PaCO2: Diminuído devido à hiperventilação que frequentemente acompanha a acidose metabólica grave.
  • HCO3: <15 mmol/L
  • SO%: Geralmente aumentado devido a taquipneia

A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação metabólica grave e potencialmente fatal, sua fisiopatologia é complexa e envolve vários mecanismos inter-relacionados, por isso é muito importante o analista correlacionar os diversos exames bioquímicos e urinários além da clínica do paciente, pois o tratamento imediato é essencial e envolve a administração de fluidos intravenosos para corrigir a desidratação e melhorar a perfusão tecidual, insulina para reverter o metabolismo alterado e normalizar os níveis de glicose no sangue, além de reposição de eletrólitos conforme necessário. A monitorização rigorosa dos parâmetros clínicos e laboratoriais é fundamental para guiar o manejo e prevenir complicações como edema cerebral e arritmias cardíacas.

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Referências

WOLFRAN, Luciana; OYAFUSO, Mônica Kanashiro; OSAKI, Silvia Cristina. Cetoacidose diabética: revisão. Pubvet, v. 13, p. 148, 2019.

Motta, Valter T, Bioquímica clínica para o laboratório- princípios e interpretações J Valter T. Motta.- 5.ed.- Rio de Janeiro: MedBook, 2009.

FOSS-FREITAS, Maria C.; FOSS, Milton C. Cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar. Medicina (Ribeirão Preto), v. 36, n. 2/4, p. 389-393, 2003.