Crioaglutinina: definição e correção
A aglutinação eritrocitária, também conhecida como hemácias em grumos ou hemácias aglutinadas, é um fenômeno que ocorre devido à presença de anticorpos frios, geralmente da classe IgM, conhecidos como crioaglutininas. Esses anticorpos têm um ótimo térmico em baixas temperaturas (abaixo da corporal) e, ao serem expostos ao ambiente in vitro após a coleta de sangue, se aglutinam devido à temperatura externa ser inferior à corporal (imagem 1). Além da aglutinação, esses anticorpos podem causar hemólise mediada por complemento.
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Causas
As crioaglutininas podem ser produzidas em resposta a diversas condições, sendo as infecções uma das principais causas. Anticorpos policlonais produzidos após infecções como mononucleose infecciosa, rubéola, varicela, citomegalovírus, HIV, brucelose e infecções por Mycoplasma pneumoniae podem desencadear a produção de crioaglutininas. Outras condições que podem culminar com a produção de crioaglutininas são a doença de crioaglutininas e a hemoglobinúria paroxística a frio.
A doença de crioaglutininas é uma síndrome desencadeada pela produção de crioaglutinina monoclonal por clones de linfócitos neoplásicos e normalmente está associada a doenças linfoproliferativas crônicas. Já a hemoglobinúria paroxística a frio é causada por um anticorpo bifásico geralmente da classe IgG. Os anticorpos bifásicos se ligam aos eritrócitos a baixa temperatura; no entanto, causam uma potente ativação do complemento ao aquecimento a 37°C. A produção desses anticorpos pode ocorrer de forma idiopática. Além disso, pode ser secundária a doenças como a sífilis ou outras infecções bacterianas e virais. Por fim, é importante ressaltar que essa produção raramente pode ser decorrente de linfomas.
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Efeitos no hemograma
A presença de crioaglutininas pode representar um desafio para a realização do hemograma, uma vez que interfere significativamente nos valores do eritrograma. Isso ocorre porque o aparelho não consegue identificar ou quantificar corretamente os eritrócitos que estão aglutinados, o que resulta em uma redução espúria dos níveis de hemácias e do hematócrito. Além disso, a presença de crioaglutininas pode aumentar a viscosidade sanguínea, reduzindo o volume de sangue aspirado pelo equipamento. Como resultado, os índices hematimétricos VCM e CHCM podem apresentar-se exageradamente altos. No entanto, a dosagem da hemoglobina não é afetada, uma vez que durante o processamento da amostra (imagem abaixo), as hemácias são lisadas. Vale ressaltar que a presença de crioaglutininas também pode interferir na quantificação dos leucócitos globais, os quais também podem sofrer agregação pela presença de crioaglutininas.
Como a correção deve ser feita
Para corrigir essas alterações é bastante simples, basta reproduzir a temperatura fisiológica do organismo humano. A amostra in vitro deverá ser acondicionada em banho maria em uma temperatura de 37ºC durante 30 minutos, em seguida, imediatamente processada e a lâmina confeccionada. É importante utilizar um copo descartável contendo água aquecida do banho-maria e transportar a amostra até o aparelho, o qual deve estar preparado para processá-la. Isso porque uma redução na temperatura pode provocar aglutinação eritrocitária.
O que fazer se a agregação persistir
Se a agregação eritrocitária persistir mesmo após 30 minutos em banho-maria, recomenda-se aumentar o tempo de incubação para 1 hora. No entanto, se não conseguir corrigir as alterações, recomenda-se a substituição do plasma por uma quantidade equivalente de solução salina previamente aquecida a 37ºC. Após essa substituição, a amostra deve ser homogeneizada e incubada em banho maria a 37ºC por 30 minutos. Esse processo de correção apresenta uma alta taxa de efetividade e garante resultados precisos no hemograma.
O que colocar no laudo
Após detectar e corrigir a aglutinação eritrocitária pela presença de crioaglutininas, deve-se reportar no laudo com a seguinte observação: “Realizamos o exame e corrigimos a aglutinação eritrocitária após incubação a 37ºC devido à presença de aglutinação eritrocitária.”
Referências
- Células Sanguíneas – Um Guia Prático – 5ª Edição (por Barbara J. Bain);
- Hemograma: Manual de Interpretação – 6ª Edição (por Renato Failace e Flavo Fernandes)
- Hematologia Laboratorial – Teoria e Procedimentos – 3ª Edição (por Valdemir Melechco Carvalho);
- Hematologia Clínica – 2ª Edição (por Teofilo M. de Oliveira Jr. e Ricardo Pasquini).